23 de nov. de 2008

ENTREVISTA COM O DJ JÚNIOR ANIMAL

Grupo: Música Eletrônica - por: Amanda, Clara Luna, Marcus Davis, Mariana Sudário, Paulo Antônio, Robson Bonfim

Clara- Tem quanto tempo que você é DJ?

Junior
- Acho que desde 2004, tem uns 4 anos que sou DJ.

C- Como foi a iniciação, a descoberta da música eletrônica para você?

J
- Bom, na verdade, meu conhecimento de música já deve ter uns 20 anos. Fiz meu primeiro curso de violão e piano com 10 anos de idade, aos 15 já tocava em bandinhas de rua, aos 18 anos, tocava em bandas de punk rock. Mas bandas de punk rock de verdade. Não apenas por tocar o punk rock, mas pelo envolvimento com a cena anarco-punk.

Nos comunicávamos com coletivos anarco-punks do México, EUA, do Leste europeu. Então minha formação é bem "underground". Desde o começo era baixista de várias bandas. Sempre eram bandas punks, de hardcore, de hip hop.

Chegamos a gravar discos com algumas dessas bandas, como a Veia Cava e a Benihana, que para quem é do movimento punk rock aqui de Fortaleza, são bandas sempre lembradas.
Mas na primeira vez que freqüentei uma festa de música eletrônica, na verdade, nem me afeiçoei muito a estória. Eu tinha uma certa trava com isso. Não agüentava. Achava que o cara ia lá, mexia nuns botões, e eu pensava: "o que ele (DJ) está fazendo mesmo em termos de música?".
Demorou para eu começar a conseguir absorver a cultura do eletrônico. E essa estória despontou mesmo quando eu escutei pela primeira vez o "Trance".

As festas aqui em Fortaleza eram dominadas por uma cultura "Techno", porque as primeiras pessoas a se envolver com música eletrônica na cidade eram influenciadas por um movimento urbano criado e que estava sendo "reverberado" a partir de cidades americanas como Detroit, Chicago, coisas que o Lobão(DJ Rodrigo Lobão) pode explicar bem melhor posteriormente.

Mas para resumir, a cena era predominantemente Techno por que DJ's como Fil, Lobbao, Arlequim, pessoas que moravam em outras cidades, como Brasília e São Paulo, tiveram mais essa influência "underground" urbana. Nessa época o que dominava por aqui, principalmente, era o Hard Techno. Quando se fala de Techno, tem várias vertentes que eu gosto, como o Acid, mas na época, invariavelmente, era o Hard Techno. Era uma coisa que eu não conseguia dançar e tal. O que acontece é que na primeira vez que eu escutei Trance, pode contar para sua professora, eu estava sob efeito de ácido lisérgico, e isso mudou minha cabeça completamente. Ocorreu um processo de abdução, fui abduzido pela música. E a partir daí comecei a estudar um pouco mais a cultura do Trance, a procurar ler artigos sobre o movimento, descobri que existia um movimento global relacionado a essa cultura e tal. A partir daí, no final do ano, fui ao primeiro festival de Trance da minha vida, em 2003, e realmente me apaixonei por essa cultura. Eu descobri que a cultura do Trance é altamente sincrética, que envolve desde música, dança, interesse em transcendência mental, evolução através da própria contra-cultura que ela exerce, interesse em ecologia, termacultura, em esoterismo, em física quântica. Então eu descobri que tudo era gigantemente sincrético, havia um leque de coisas que ela abordava, então pronto, foi paixão à primeira vista.

Como DJ, na verdade, um belo dia eu fui a São Paulo numa convenção de tatuagem, fui comprar câmeras fotográficas numa rua da cidade que é o "paraíso dos eletrônicos", acabei entrando numa loja que vendia artigos para DJ. Comecei a pesquisar, o cara falou que parcelava e comprei o material.

Cheguei em Fortaleza, comecei de forma auto-didata a brincar com aquilo ali, e pronto, acabei conseguindo mixar. Não sou um DJ altamente técnico, porque nunca fiz um curso de discotecagem, mas me considero um bom DJ por ter conhecimento de como o Trance está fluindo. Não sou um DJ muito técnico mas me considero um bom DJ por ter um bom "feeling". Tudo isso que eu estou lhe contando começou mais ou menos em 2004.

C- E como foi a recepção do público? Como você se sentiu na primeira apresentação, quando tocou uma música e o público levantou os braços?

J- Foi tranquilo. Como já fazia um trabalho com tatuagem, com música, com artes plásticas, eu já era conhecido, então não foi difícil entrar no meio, não senti muita dificuldade.

C- Ser tatuador te ajudou a abrir portas então?

J- Ajudou, porque meu nome já estava espalhado pela cidade, então não foi difícil para mim no começo. Não é uma atividade muito fácil, não, mas eu já tinha envolvimento com música, então foi natural.

C- Seu estilo é o Trance, certo? Então, em que você acha que o Trance é mais diferente dos outros estilos, como por exemplo, Techno, Electro?

J- O que aconteceu, especificamente com o Trance, foi... Vou falar um pouco da história do Trance para poder explicar.

O Trance é herdeiro da cultura hippie, que por sua vez é herdeiro da cultura beatneak, e por aí vai. O que aconteceu foi que, mais ou menos na década de 60, o movimento hippie se encontrou meio que "sem chão", meio que na beira de um abismo. O capitalismo tinha conseguido transformar o movimento hippie num produto de consumo. O capitalismo tinha conseguido colocar o movimento hippie na vitrine. Aquela estória de paz e amor já não fazia mais muito efeito, a guerra do Vietnã já havia acabado, a guerra fria continuava crescendo, o ácido lisérgico tinha sido proibido em 1975 no EUA e depois no resto do mundo... Então no final da década de 70 os hippies começaram a dizer "e aí, o que a gente faz como processo contra-cultural?". Resolveram abandonar os EUA. Muitos desses hippies procuraram lugares no mundo onde eles pudesssem exercer a forma livre de ser, onde eles pudessem celebrar da forma como eles queriam celebrar... O ácido lisérgico, por exemplo, ainda não era proibido na Índia, então muita gente acabou se mandando para lá, especificamente para um balneário chamado Goa, ao sul da Índia. Vários hippies foram para lá, criaram comunidades alternativas. Moravam de forma auto sustentável, da forma como eles pregavam, e continuaram celebrando como era o estilo deles, de fazer festas-- primeiro com o rock 'n roll elétrico, a la Jimi Hendrix. Mas como a tecnologia começou a dar suporte em relação a sintetizadores com placas externas, eles começaram a mexer no som e começaram a surgir as primeiras batidas do Trance, que não nasceu especificamente na Índia. Existia também, paralelamente, um Trance europeu, que era um Trance mais de centros urbanos, tocado mais em boates. E o que acontecia com o Trance? Lá em Goa, era uma música também voltada para a transcendência mental, era também tocada ao ar livre, que as pessoas se vestiam de outra forma, diferente dos grandes centros urbanos europeus. Começaram a misturar com o hinduísmo, praticar yoga... Então o que aconteceu com aquele nicho do Trance em Goa, que depois foi chamado de Goa Trance, pois era diferente do Trance europeu, foi justamente a mistura dessa busca que o movimento hippie tinha com toda a cultura indiana. Aí misturou hinduísmo, misturou com liberdade de vestir, misturou com a questão de uma procura a respeito da mãe-terra. Aí foi onde surgiu essa diferenciação entre o Goa Trance e o Trance europeu, e a partir do Goa Trance começaram a inserir elementos psicodélicos nas músicas (psicodelia sempre esteve muito ligada a questão do uso do ácido lisérgico na cultura hippie). Foi daí do Goa Trance que nasceu o Psy Trance. Então a grande diferença entre o Psy Trance e todas as outras vertentes é que as elas são muito urbanas. Têm uma cultura também, lógico, e uma cultura que tem que ser respeitada, por ser gigante também. Então são culturas underground, de zonas urbanas.

O Trance não, nasceu numa cultura de zona rural, das festas não serem dentro de lugares fechados... A grande diferença entre eles é uma diferença histórica mesmo, de contexto, de como cada um desses movimentos acabou sendo criado.

C- Você é produtor de música eletrônica também não é?

J- Há pouco tempo. Há cerca de 1 ano e meio eu comecei a estudar os primeiros programas que seqüenciam. É uma luta árdua.

C- Quero saber como é o processo de produção, o que precisa, quais são os aparelhos ?

J
- Bom, primeiro a gente precisa de um desses programas recentemente lançados de seqüenciamento musical. Esses programas são enormes, um banco de dados e com programações internas gigantescas.

Primeiro que isso exige um grande processador, não é qualquer computador que vai conseguir rodar um programa desses. Na verdade, esses programas existem dos mais simples, comparados a uma chave de fenda, até os mais modernos, como ferramentas de precisão. Esses mais pesados precisam de processadores que possam rodá-lo, e principalmente placas de áudio externas que têm de ser compradas por fora, porque nem o melhor computador vendido acompanha uma placa de áudio adequada de suporte ao programa em tempo real. Além disso tudo, invariavelmente é preciso monitores de áudio. Monitores são caixas de som de alta resolução de freqüência. Nessas caixas de som são ouvidas freqüências que caixas convencionais não são capazes de captar. Por isso o nome é monitor, porque a partir dali você vai fazer o monitoramento daquilo que está criando, para saber se é realmente aquilo que você quer fazer. E você pode se utilizar de muitas outras coisas que foram criadas, como "groovebox", baterias eletrônicas (hoje em dia há baterias eletrônicas nas quais podem ser armazenados "samples"), sintetizadores que são coisa de outro mundo.. Então tudo isso aí pode ser usado para produzir um som de qualidade.

C- Além de produzir festas, vocês criaram a pouco tempo um site que tem muitas informações tanto sobre música, como sobre cultura... Eu gostaria que vocâ falasse um pouco sobre o site e o núcleo (Nu-Act).

J
- O Nu-Act (Núcleo de Arte e Cultura Transcendental) surgiu a mais ou menos 3 anos, de forma natural, a partir de um grupo de pessoas de Fortaleza, de vários segmentos de atividades diferentes, desde de gente que fazia performance artística, a pessoas que trabalhavam com tatuagem, artes plásticas, fotógrafos, coreógrafos, decoradores, web designers, gente que trabalhava com marketing, educadores físicos, gente que não tinha nada a ver com a estória mas se identificava com a cultura... Um pequeno nicho de pessoas aqui de Fortaleza que acabou até me conhecendo nesses festivais de Trance. Você está lá na pista e alguém fala "Você é de Fortaleza, não é?", "sou. e aí, beleza?". E um pequeno grupo naturalmente foi começando a se aproximar, que era o grupo aqui de Fortaleza que mais visitava festivais de Trance no Brasil. Hoje em dia esse grupo visita festivais no mundo inteiro, então o pessoal começou a se juntar e falou "Vamos fazer festas psicodélicas aqui em Fortaleza? Festas com conceito? Buscando trazer para dentro da festa tudo aquilo que a gente vê nos festivais? Vamos." Então foi aí que surgiu o Nu-Act. A partir daí que a gente resolveu se organizar, começar a fazer festas, criamos esse nome, criamos o núcleo, começamos a fazer algumas festas, não fazemos festas comerciais... Claro que em nenhuma das nossas festas a gente quer perder dinheiro, a gente quer ganhar dinheiro.

C- Até porque demora entre uma festa e outra...

J
- Essa é justamente a prova de que elas não são comerciais. Se elas fossem comerciais a gente faria um calendário anual, e isso não existe. Na verdade eu costumo dizer que as festas “vêm”, a gente senta e diz “está na hora de fazer uma festa”. Sempre aconteceu assim. É a quarta festa nossa, em 3 anos de núcleo. Então, falando em núcleo, ele passou a existir no intuito de a gente gerar, irradiar, absorver, informação sobre essa cultura, gerar pontes entre as pessoas aqui do estado e do resto do mundo que estivessem interessados a disseminar a real cultura do “psycodelic global Trance”, do conceito primordial desse movimento.

Nós, no começo, fizemos um site, que não funcionou muito bem, porque, na verdade, nesse monte de gente que eu falei que tinha criado o Nu-Act não tinha um “cara meio multimídia” que nos pudesse dar um suporte ao site. Ultimamente muita gente começou a absorver essa informação que a gente está irradiando.

Então, acabaram se aproximando do Nu-Act muita gente interessante, entre elas, muita gente de multimídia, programadores, web designers... Então aí vai entrar o Toni Mazzoti, que é um cara que tem um conhecimento enorme da cena Techno de Fortaleza. Também o pessoal do Mind Paradise, que é uma garotada nova que começou a produzir música eletrônica dentro de casa, mas aí se infurnou em casa no último ano, e ninguém conseguia encontrar nenhum dos três em lugar nenhum. Eles estão lá, “amarelos”, sem sair de casa, só no estúdio, não tomam nem sol... Então os caras conseguiram em um nível de produção muito grande. Esse monte de gente começou a se agregar ao Nu-Act, e aí surgiu esse site, que, particularmente, estou “de cara”, abismado, sempre vejo coisa nova diariamente, que não fui eu que postei. Está muito dinâmico.Nós estamos conseguindo gerar informação por nós mesmos. A partir do site estamos conseguindo estreitar laços com os outros irradiadores de informação do Trance de outros sites nacionais.

A produção do nosso grupo está crescendo muito, está saindo uma música nova quase toda semana. A coisa está magnífica, sabe? A gente tem mil outros projetos, cartas na manga, de produção de documentários, aí começou a entrar gente que faz vídeo.
No último ano o Nu-Act agregou muita gente com esse magnetismo que a gente começou a fazer despertar em muitos que não tinham nada a ver com o Trance.

No ano que vem a gente vem com muita novidade, como documentários e coisas que eu nem posso falar ainda, porquê são idéias que ainda estão no plano da imaginação, então é melhor não soltá-las porque ainda são idéias muito frágeis.

C- Essa febre do Trance, aqui no nosso estado, pelo menos, começou há pouquíssimo tempo. (Antes haviam festas de Techno e Hard Techno). As festas de Trance têm sido cada vez mais freqüentes e mais bem-estruturadas, o público está deixando de ir a festas tradicionais do estado, que sem dúvida continuam sendo os forrós e shows. As festas de música eletrônica têm conseguido competir com as festas que estávamos acostumados a ter por aqui. Trance virou moda. A Entrance veio para mostrar um conceito, garantindo o som e também inserções artísticas, com bailarinas, pirofagia, decoração inovadora. Então, você, como profissional, o que acha dessa massificação, da popularização das raves no meio de pessoas que na verdade não gostam de música eletrônica mas que as freqüentam por estarem na moda?

J
- Eu acho isso aí uma faca de dois gumes. Primeiro porque quando a coisa começa a massificar ela vai perdendo a essência primordial dela. Então quando uma festa começa a ficar grande demais, concomitantemente ela vai ficando comercial demais. O perigo dessa grande massificação, que é um dos gumes dessa faca, é a questão de que, quando, do nada, uma grande massa começa a freqüentar sem ter o menor conhecimento, principalmente quando esses produtores não dão o suporte do conceito dentro da festa, essas pessoas (os novos freqüentadores) começam a perder o sentido daquilo ali, então a festa vai ser puro “oba-oba”; lógico que festa é diversão, a celebração tem que existir, o ser humano não pode parar de celebrar. Mas quando a coisa fica dessa forma, a gente começa a ter o puro hedonismo, as pessoas vão para festa usar drogas por puro hedonismo, sabe? Então essa é uma parte muito ruim da história e ai é que a mídia, a imprensa, os colegas de vocês, infelizmente como a grande maioria ainda trabalha para o capital, ainda trabalha para o paradigma existente (cartesiano, newtoniano e mecanicista) não vá embora agora. Infelizmente o pessoal vai sempre pegar nessa história da droga, e o que acontece com as raves, e é nessas raves q teve esse grande “boom”.

Na verdade, quando você vai num festival de trance, não se vê o pessoal caindo por causa do uso de drogas. Parece que o pessoal tem uma consciência a mais na utilização das drogas. Parece que o uso da droga começa a entrar numa área de que a pessoa tem um porquê daquilo ali. Porque as pessoas usam drogas? Eu poderia te dar mil motivos, tem a religiosidade. A gente sabe que existem religiões aqui no Brasil autorizadas a usar a Ayuhasca, que é um chá. O que acontece nas raves é que a gente não consegue ver o real conceito do movimento trance, que a gente vê nos festivais. A mídia vai sempre pegar pra esse lado, porque infelizmente nós somos a “bruxa da vez” , pois estamos despertando e quanto mais de nós despertar mais é perigoso para eles. Não é interessante para eles que a gente propague cultura, principalmente contra-cultura. O outro lado,o outro gume da faca é que com o crescimento do trance algumas dessas pessoas que começam nas raves acaba tomando consciência e entrando nesse movimento e isso cada vez mais está gerando uma rede global de pessoas que através dessas tecnologias de comunicação e Internet, estão realmente criando uma rede de amizades que está trocando informação, conhecimento sobre tecnologias que serão úteis num futuro próximo pra que se por um acaso a gente tiver um colapso a gente vai ter entendimento desde sobre um fogão solar, até Permacultura e por ai vai. Então a quantidade de conhecimento que essa cultura está conseguindo absorver e dividir isso é gigantesca. Esse é o lado bom do grande “boom” da história. Porque queiram eles nos reprimirem ou não o “boom” vai continuar acontecendo. O grande problema da questão das drogas é um problema que acompanha a raça humana desde o seu princípio, desde que o homem é homem ele usa drogas. Quando se fala de drogas, essa palavra tem um cunho pejorativo, mas quando eu estou falando de drogas eu estou falando no sentido farmacológico. Desde o Voltaren que meu pai toma todas as noites para dormir, até a Cannabis, a erva que o pessoal consome,o ácido lisérgico, o álcool e o cigarro, todos são drogas. Ai se ouve “ah!mas essas drogas são proibidas” tudo bem, o álcool também já foi. O maior traficante do mundo já registrado até hoje, maior do que o Pablo Escobar, maior do que o Abadias, foi o Alcapone, e ele era traficante de álcool. Houve a Lei Seca nos EUA onde foi proibido o uso do álcool. Depois os EUA se tocaram que era melhor liberar o álcool, cobrar uma taxa sobre o produto, proibir que as pessoas dirigissem embreagadas, mas hoje em dia se sabe que o álcool é muito mais prejudicial do que por exemplo, o ácido lisérgico, que por sinal era liberado nos EUA quando o álcool era proibido , e em 1965 o ácido lisérgico foi proibido. Então essa história de ser legal ou não pode mudar daqui a 5 anos, porque existe um movimento de legalização do LSD.

Muitos psicanalistas e cientistas sabem da grande contribuição que essas substâncias podem dar para o ser humano em termos de expansão mental, em termos de abrir a rede neural. Na verdade, o ser humano tem um cérebro que ele utiliza de 10 a 11%, então há lugares do cérebro humano onde nunca um impulso nervoso passou por ali, que a gente não sabe nem que potencial aquele lugar do cérebro pode nos dar, e o ácido lisérgico faz com que a gente entre em contato com o nosso inconsciente, ele faz com que a gente ative redes neurais que nunca foram utilizadas, mas ele também pode ser muito perigoso. Não é qualquer pessoa que pode tomar o LDS.

Eu acho que era pra ser liberado, sob uso acompanhado pelos médicos, sob uso controlado. Quando se fala de drogas, para mim a grande questão é: o abuso de drogas é decorrente do vazio em que a raça humana se encontra hoje em dia e, nesse meio vão drogas ilícitas e lícitas.

O cara passar a semana inteira pegando o metrô às 5h da manhã, para passar o dia inteiro trabalhando e chega a noite ele não consegue nem dar um beijo no filho, pois já está dormindo, então uma pessoa que vive assim, no domingo vai se atolar na cachaça, chegar em casa depois revoltado, bater na mulher.

O cara tem outras coisas para usar: o ácido lisérgico, ecstasy, maconha, álcool, cigarro.Para mim o grande problema da droga não é a droga, o grande problema é o próprio vazio em que o ser humano se encontra hoje em dia. Ele acaba buscando na droga uma fuga para tudo isso ai. Infelizmente a mídia vai sempre focar na questão da droga porque hoje em dia o ácido lisérgico, o ecstasy, a maconha, são proibidos.

C- Há muitos menores de idade freqüentando as raves, muitas vezes escondido dos pais. As vezes apresentam documentação falsificada na entrada das festas, as vezes a produção é coninvente e deixa passar. Quais os cuidados que vocês tem com a entrada de menores de idade nas suas festas?

J
- Eu acho que o ambiente de uma festa como essa, não é muito interessante para um menor de idade, agora essa questão de menor de idade complica porque tem muito menor de 16 com muito mais cabeça do que adulto de 21 anos. Mas como a questão legal coloca o menor como sendo de 18 anos pra baixo, a gente não acha interessante que freqüentem as nossas festas, apesar de sabermos que há muito desses menores que mereceriam estar lá, absorver essa cultura, mas infelizmente, a gente não pode se responsabilizar por eles. A gente prefere fazer festa para adultos, pois cada um fica responsável por si. Nas nossas festas a gente inibe a questão do tráfico. A gente faz revista, os nossos seguranças são orientados a coibir o tráfico dentro da festa. Mas a gente prefere fazer a Entrance para adultos. Lembrando que no nosso evento tem a presença de ambulância para qualquer acidente que vier a acontecer.

C- Você já viajou pelo país e pela Europa para participar de festivais de música eletrônica. Conte para nós como é a viagem, as expectativas, os lugares onde ocorrem esses festivais, que devem ser gigantescos, com 15 mil, 20 mil pessoas, com raças diferentes, cor do cabelo, idioma, tudo totalmente diferente da nossa realidade. Como é lidar com toda essa diferença e o que você traz para Fortaleza?

J
- A gente traz um monte de coisas, sabe? Primeiro que pela lei natural dos encontros a gente deixa e recebe lições, e quando esses encontros são com pessoas do mundo inteiro, gente ligada a vários nichos dessa cultura, há vários aspectos dessa cultura. Essa é uma riqueza infindável. Você falou em 15 mil pessoas, mas o último festival que eu fui agora nesse ano teve 35 mil pessoas e 15 mil pessoas não puderam entrar porque os organizadores acharam que a estrutura que eles tinham preparado comportava somente 35 mil pessoas. Lá é um lugar que você chega e você recebe um livrinho que fala toda a programação das 5 ou 6 pistas de música que tem; que não é só música eletrônica, mas envolve uma pista principal de trance,uma pista secundária com outros estilos de música eletrônica, uma pista que via desde bandas de rock n´roll a bandas de percursão, a bandas de folclore de Portugal, da Alemanha, outra pista com som ambiente, para quem quer só relaxar, então você recebe um livrinho com toda programação dessas pistas, a programação de todos os outros espaços do festival. Tem espaços relacionados a saúde, onde se vai lá só pra ter palestras sobre alongamento, alimentação vegetariana, ginástica natural, outro relacionado as artes plásticas. Nesse mesmo livrinho você vê a programação de palestras de artistas, pintores da artes visionárias, inclusive a própria exposição desse artista, workshops sobre pintura minimalista. Lá mais na frente você encontra o espaço multimídia que a programação vai ter durante o dia inteiro execução de filmes de arte, de documentários sobre física quântica, exoterismo, ufologia, e no outro você já vê um palco montado com peças de teatro o dia inteiro. Você abre o livro vamos dizer as 11h “o que que eu vou fazer agora?” ai você não sabe o que fazer, porque no mesmo horário tem um Dj que você queria ver, uma palestra, um workshop, uma exposição. Tudo isso acontece no BOOM festival, em Portugal, um dos maiores festivais do mundo, quer dizer do mundo eu não posso dizer, pois nunca fui num festival na Ásia, nem nos EUA. Mas o que falam é isso, que é o maior do mundo. O festival é grandioso! Então quando você vai num festival você sente uma energia louca. A primeira vez que eu fui no BOOM eu me lembro que acabei de entrar, montei minha barraca e fui dar uma volta na fazenda que são quilômetros, as vezes se você andar de um lugar pra outro você anda 2 km,ai você nem vai porque tem que andar tanto. É uma cidade, com hospital, ambulatório, uma rádio(se você levar um radinho de pilha e sintonizar na 103 você escuta “a entrevista com o Dj tal, que vai tocar em tal hora da noite”, “os banheiros da área tal estão interditados ´por isso´ ”. Todo dia também tem um jornal que você vai lá na administração e pega, que tem entrevistas, as notícias do festival. Então é uma coisa muito doida. Não sei como eles conseguem. São milhares de pessoas trabalhando, milhares. Quando você chega no festival e vai conhecer o lugar, são muitas pessoas e ninguém fala a mesma língua. Ai você cruza com uma pessoa que passa por você e faz assim: “BOOM!!!” e passa outra e faz “BOOM!!” ai chega uma hora que você está fazendo a mesma brincadeira. É incrível! Não tenho nem como explicar isso aí.

C- Então você carrega todos esses conhecimentos que você recebe nesses festivais, nas tuas pesquisas pra tua festa, a Entrance, para que o público veja coisas sempre diferentes...

J
- Eu carrego não só para a festa, mas também para a minha vida. Hoje em dia a gente se preocupa cada vez mais em estudar permacultura para podermos cada vez mais adequar a forma como a gente produz e consome, a forma como a gente trata o lixo, que não vou nem chamar de lixo, porque a gente trata os resíduos que a gente consome. Então além da permacultura, a gente estuda o calendário Maia. Por ai vai. Então não só na festa, mas também na minha vida diária eu procuro por em prática o que eu consigo absorver dentro do “psycodelic global Trance”.

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